BUSQUEM EM PRIMEIRO LUGAR O REINO DE DEUS E A SUA JUSTIÇA
Tema da semana: A vida do discípulo está toda centrada no Reino. Em geral, Mateus usa a expressão Reino dos Céus, evitando falar Reino de Deus, por respeito aos cristãos de sua comunidade, a maioria de origem judaica, cuja lei proibia tomar o nome de Deus em vão (Ex 20, 7; Dt 5, 11).
A Palavra Reino evoca autoridade, poder, supremacia, senhorio ligados à pessoa do Rei. Aplicada a Deus, ela se refere ao senhorio de Deus, ao exercício de seu poder sobre todas as suas criaturas. O Reino de Deus acontece quando a Lei de Deus - seus mandamentos - são a pauta de ação de quem aderiu a Ele. A Lei de Deus expressa a vontade de Deus a respeito da humanidade. Ao ser posta em prática, Deus se torna o Senhor. É Jesus quem nos diz qual é a vontade do Pai para a humanidade, ao reinterpretar a Lei de Moisés: “Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo” (Mt 5, 21-48).
O Reino exige que o discípulo torne-se excêntrico, ou seja, tenha o centro de sua vida fora de si mesmo. O discípulo se recusa a ter uma autonomia absoluta, a criar a própria lei, mas aceita a heteronomia, isto é, auta-se por uma lei que tem origem em Deus e não no ser humano.
Acolher o Reino é um grande desafio para quem é filho da modernidade e da cultura da autonomia daí resultante: “Só faço o que eu quero, o que me agrada, o que dá prazer, o que me interessa...“. As crianças hoje já são educadas assim. A pedagogia moderna orienta os pais a jamais dizerem “não” a seus filhos. As conseqüências já podem ser percebidas.
O Reino supõe um ato de liberdade e só será humanizador quando acolhido livremente. O discipulado do reino não acontece por imposição, nem é fruto do temor. É preciso decidir-se livremente por ele.
Graça da semana
Deus de amor, Pai bom e santo, em Ti estão as minhas fontes, a minha origem. Dai-me a graça de Te colocar e o teu Reino como ponto de referência de minha vida, rejeitando tudo quanto me possa afastar de Ti e de teu Reino, especialmente, as seduções mundanas e as insídias dos falsos profetas.
Textos para a semana
1º. Dia: Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? (Mt 22, 34-40)
Hoje vou fazer uma contemplação de Mt 22, 34-40, percorrendo os seguintes passos:
Preparando-me... Coloco-me aos pés de Jesus, meu Mestre e Senhor, como um discípulo. Respiro profundamente algumas vezes, sinto meu corpo e acolho suas sensações, entregando-me cada vez mais ao Deus da Vida.
Recordo a história lendo e relendo devagar o texto...
Peço a graça de aprender de Jesus a lição mais importante de sua vida: amar como Ele amou.
Procuro ver as pessoas... Tento ouvir as palavras que dizem... Observo o que fazem as pessoas da cena, suas ações... Elas tem nome, história, alegrias e sofrimentos, buscas. Como reagem? Percebo os gestos, os sentimentos e atitudes, sobretudo, os de Jesus. Participo ativamente da cena, deixando-me envolver por ele. E, refletindo, tiro algum proveito de tudo o que ocorreu durante a oração...
Finalizo... com uma despedida íntima de Jesus, como um discípulo fala com seu mestre, agradecendo suas palavras e pedindo a graça de aprender sua lição de amar as pessoas como Ele nos amou.
Rezo um Pai Nosso. Saindo da oração, faço a minha REVISÃO.
2º. Dia: Não podeis servir a dois senhores (Mt 6, 24)
Hoje me proponho considerar a seguinte história de um autor desconhecido:
Um homem vivia sozinho nas montanhas e dedicava-se ao trabalho e à oração. Todos falavam dele e o tinham por um grande sábio. Certo dia, quando estava rezando junto ao rio, apareceu um jovem que andava em busca de riqueza e pediu ao sábio que lhe desse algo de muito valor.
O sábio respondeu-lhe que só possuía uma velha cabana e a roupa que vestia. Contou-lhe que, todos os dias, trabalhava na pequena horta para poder comer. Ofereceu-se, porém, para partilhar tudo com o jovem. Como este se mostrava desiludido, o sábio lembrou-se da pedra preciosa que tinha enterrado, na perspectiva de dá-la a alguém que dela precisasse. Com um sorriso, disse ao jovem onde estava a pedra. Se ele quisesse, poderia levá-la. O jovem, muito feliz, seguiu o caminho indicado.
No dia seguinte, quando o sábio acordou, encontrou o jovem à porta de sua cabana. - Vim devolver-lhe a pedra preciosa - exclamou o jovem. - Mas eu a dei de presente, respondeu o sábio. Se a vender poderá ficar muito rico! - Prefiro que me dês um pouco da riqueza que você tem dentro de você - disse-lhe o jovem - essa que lhe permitiu dar-me o único objeto precioso que você possuía e manter o seu sorriso, a sua alegria e a sua paz interior.
Agora reflito sobre esta história para tirar algum proveito. Posso acolher algumas frases de Mateus que me ajudarão a perceber a radicalidade do Reino de Deus (Mt 5-7).
Termino este meu tempo de oração pessoal, saboreando esta poesia de Santa Teresa de Jesus: Não te perturbes, nada te espante, quem com Deus anda nada carece. Não te perturbes, nada te espante: Basta Deus, só Deus.
Rezo um Pai-Nosso.
3º. Dia: O discípulo discerne caminhos para não se desviar do Reino (Mt 13, 18-23)
Hoje vou considerar a necessidade de o discípulo viver em contínuo discernimento, para que seu coração não se desvie do projeto do Reino proposto por Jesus. Há dois tipos de desvios dos quais é preciso se precaver:
1. Existem falsos profetas que me querem conduzir pela estrada ampla e fazer-me entrar pela porta espaçosa, rejeitando a porta estreita que leva à vida: Mt 7, 13-16.
2. O segundo motivo de desvio são as seduções do mundo, das quais nenhum discípulo está isento. Na explicação da parábola do semeador (Mt 13, 22), a Palavra é sufocada pelos espinhos dos múltiplos compromissos e das demasiadas preocupações.
Agora deixo ressoar em meu coração tudo que hoje me foi proposto. Simplesmente, deixo que palavras, pensamentos, idéias que surgiram me ensinem, me mostrem, quem sabe, outro caminho, outra compreensão de minha fé e do mistério de Deus. Ficar em silêncio, ouvir, dispor-me à sua vontade, deixar-me amar é oração.
4º. Dia: O Reino de Deus desarticula nossos valores (Mt 11, 25-30)
Hoje quero contemplar Jesus que louva ao Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelou aos pequeninos o mistério do Reino e o escondeu aos sábios e entendidos deste mundo. “Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado”. O Reino desarticula nossos valores. Nele “os primeiros são os últimos e os últimos, primeiros” (Mt 19,30).
Rezo agora tranquilamente, saboreando o salmo 131(130) e pedindo a graça de ter um coração de criança para compreender os caminhos do Senhor:
Finalizo, dando glórias à Trindade, porque me revelo também a mim os mistérios do Reino de Deus.
5º. Dia: O Reino é do Pai (Mt 6, 5-15)
Hoje me disponho a estar como um discípulo ou uma discípula diante de Jesus, para ouvir o sermão da montanha. Depois das bem-aventuranças e outros textos, Jesus me fala da oração e de como me relacionar com o Pai. Procuro me acalmar, colocando-me na presença de Deus em profunda adoração.
Leio o texto que vou rezar, Mt 6, 5-15, uma ou duas vezes. Peço a graça da semana e, neste dia, a de acolher em meu ser e agir o reino do Pai..
Em seguida, reflito sobre mim mesmo para tirar algum proveito. Tomo consciência do que a meditação provocou em mim, do que o encontro com o Senhor imprimiu no meu coração e o aplico à minha vida concreta, ao meu cotidiano, às minhas relações com as pessoas e as coisas.
6º. Dia: Oração de repetição
A oração do 6º. dia consiste no exercício chamado de Repetição. Trata-se de aprofundar aquilo que rezei durante a semana. Santo Inácio diz: não é o muito saber que satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente” [EE 2]. Por isso não é apresentado uma nova matéria de oração para este dia. Faço, pois, a oração a partir do texto ou sentimento que mais me consolou ou que mais me desolou na semana que passou. Faço como nos outros dias, iniciando com a oração preparatória e pedindo a graça da semana. Depois sirvo-me do texto mais significativo da semana e termino como nos demais dias.
BOA SEMANA A TODOS!