Na verdade, somente quem é livre em seu interior tem condições de sair incólume da armadilha que montavam os fariseus e herodianos no episódio da moeda. Nenhuma pessoa, a não ser que seja inteiramente livre nas profundezas de seu ser, pode declarar, diante de seu juiz, que ninguém lhe tira a vida, mas que a dá livremente, ou que o homem em cujas mãos está sua vida não teria sobre ele nenhuma autoridade se não lhe fosse dada do alto.
Qual o segredo dessa liberdade interior? Qual sua fonte? Seria ela uma característica própria de Jesus, inteiramente homem e inteiramente Deus, ou estaria também ao alcance de todo homem?Jacqes Fesch, um jovem francês, proveniente de uma família abastada, tornou-se adito de drogas pesadas e acabou por assassinar e ser preso. Condenado à morte, após sua conversão na prisão, declara, como Jesus, que ninguém lhe tira a vida, mas a dá livremente e escreve, a poucas horas de sua execução, aos 27 anos:"Uma paz dulcíssima inunda a minha alma desde hoje de manha. Jesus me leva para além do tempo, da angústia e de minhas quatro paredes. Fontes de água viva correm em minha alma à qual nada perturba. Como sou feliz! Daqui a pouco, vou ver minha família pela última vez, provavelmente papai e Pierrete. (...) Eu não morro, apenas mudo de vida (...) a vida é felicidade já que nenhum acontecimento, por mais terrível que seja, poderá nos tirar a esperança e a confiança que temos em Jesus ressuscitado. Além disso, apesar da obscuridade do exílio e das dores que a vida nos traz, é preciso guardar no fundo do coração um pequeno raio da luz do paraíso e nunca nos esquecermos a herança a que somos chamados. (...) Acabo de estar com minha família. Uma última visita transcorrida na paz e muito próximo de Deus." ("Dans 5 heures je verrai Jésus, Journal de Prison, Jacques Fesch", ed. Sarment, France).
É fácil identificar nas palavras de Fesch alguns segredos da liberdade interior: a oração; a vida interior no sentido de "estar atento ao interior", como ensina João da Cruz; a gratidão pelo dom da vida; a esperança e confiança em Jesus ressuscitado; a confiança absoluta na misericórdia de Deus, que nos garante a herança do céu. Para além do texto, sabemos o quanto Fesch desejava confessar-se e comungar o mais freqüentemente possível e o quanto alegrou-se por sua filha Pierrete voltar à Eucaristia. Olho Fesch em sua célula de n. 18 e penso como, afinal, ele foi afortunado para ter tempo e tranqüilidade para corresponder à graça santificante que o Batismo deu a todos nós.
Na correria de hoje, raramente estamos suficientemente atentos ao nosso interior, onde a Trindade habita desde o nosso Batismo. Os acontecimentos nos arrastam como senhores impiedosos, mantendo-nos na superfície da vida, ao ponto de pensarmos que as pessoas ou circunstâncias são capazes de nos causar mal ou de nos trazer a infelicidade. Na verdade, somente nós somos capazes de fazer mal a nós próprios pela maneira como reagimos ao que nos acontece ou à maneira com que nos tratam. Se reagimos com fé, esperança, caridade, confiança em Deus, perdão, misericórdia, o que nos poderá perturbar? O que nos poderá tirar a liberdade interior? Se, entretanto, reagimos com desesperança, ódio, rancor, vingança, medo, qualquer pequeno contratempo nos tira a paz, nos faz transigir em nossa fé e nos aprisiona interiormente.
Roubados de nossa vida interior, de nossa oração quotidiana, de nossa renovação diária de adesão a Jesus e Sua Palavra, ficamos à mercê dos acontecimentos e da opinião dos outros. Passamos a caminhar na contramão do Evangelho, cedendo a modismos e propostas passageiras, contrariando, mesmo sem perceber, aquilo em que deveríamos crer. Com isso, dividimos nosso coração, vendemos nossa consciência, quebramos a coerência interior, leiloamos nossas convicções. Perdemos, assim, aquela capacidade de ver além das aparências tão típica dos que vivem a liberdade interior que vem de estar unido a Jesus e abraçar o Evangelho até o martírio, sem nos vendermos ao que as pessoas pensam ou nos movermos interiormente pelo que nos fazem ou ameaçam fazer.
A fé e confiança que dão a Jacques Fesch, considerado culpado de morte por todos os homens, a liberdade interior jorram como um rio de graça na vida de Santa Gianna Beretta Molla, decidida a morrer para salvar a filha em seu ventre, apesar da opinião de todos os colegas médicos que a cercam. Como um bendito rio de liberdade interior, fé e confiança tomam voz em Madre Teresa de Calcutá em sua coragem de falar abertamente, a quem quer que seja, a verdade do Evangelho, transformando em atos concretos suas convicções. Desemboca este belo rio em João Paulo II, livre de tudo e de todos, livre pela fé, esperança, caridade, oração, perdão. Quatro mártires do nosso tempo: um adito de drogas assassino condenado à morte, que insistiu em confiar na misericórdia de Deus, apesar da sentença dos homens, morto em 1957; uma médica mãe de família elevada aos altares, que insistiu em defender a vida de sua filha, apesar de toda a pressão em contrário, morta em 1961; uma religiosa que insistiu em servir a Jesus e à vida no pobre apesar de todas as acusações de assistencialismo, morta em 1997; um papa que insiste em proclamar a verdade apesar de ser acusado de estar na contramão da história e malgrado a velhice,a imagem pública de fraqueza física e enfermidade. Quatro católicos que proclamam com a vida que a liberdade interior é possível para quem se decide a amar e a haurir da fonte da oração e da vida interior aquele "raio de luz do paraíso" que nos faz devolver a César o que é de César e a Deus o que é de Deus e, interiormente livres, vivermos em coerência com a fé, esperança e amor que nos foram conquistados por Aquele que deu sua vida livremente.
( Texto de Emmir Nogueira - Co-fundadora da Comunidade Shalom )
Deixo hoje esse texto pra você que vem aqui visitar, se conseguiu chegar até aqui é porque a leitura interessou, então pense sobre a sua liberdade interior e não permita que ninguém tire a sua vida, mas que você a dê livremente.
SEJA LIVRE EM CRISTO E DEIXE QUE DO SEU INTERIOR BROTE UM RIO DE ÁGUA VIVA QUE SACIA A SEDE DE MUITOS.